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Quem tem medo do Robô Mau? Como usar a tecnologia como aliada no foodservice

Tempo de leitura: 4 minutos
Ivan Achcar

Ivan Achcar

Fundador e CEO do grupo EGG EDUCA

Ivan Achcar é chef, estrategista e mentor de negócios, com 25 anos de experiência transformando empresas e líderes nos setores de Gastronomia e Hospitalidade. Reconhecido por sua combinação de criatividade, disciplina e inovação, já capacitou milhares de profissionais e viabilizou a abertura e o crescimento de centenas de operações de sucesso.

Fundador e CEO do grupo EGG EDUCA, a primeira escola da América Latina 100% voltada à gestão de negócios de Gastronomia e Hotelaria, Ivan desenvolve programas de formação e capacitação que já impactaram mais de 10 mil alunos, além de milhares de empresas e redes de alimentação.

Era uma vez uma cozinha. Não qualquer cozinha — mas uma daquelas que cheiram a alho dourado, que tem panela fumegando, barulho de cebola na manteiga frigindo e   panelaço de alumínio batendo na pia. Uma cozinha onde a avó — aquela mesma que fazia bolinho de chuva sem receita, só com olho e o coração — reinava absoluta. Até que, um dia, bateram na porta.

Não era o lenhador.

Era o Robô.

E ele chegou elegante, inoxidável, com luzes LED na cara e uma promessa irresistível: produzir mais, errar menos, economizar tempo — e nunca, jamais, pedir folga na sexta à noite. Vovozinha estranhou. “E o tempero, meu filho?”, perguntou. “Está na memória RAM, senhora”, respondeu o Robô. Ela ainda tentou argumentar, mas não teve jeito: foi comida viva por ele. Tal qual o Lobo Mau só que cibernético.

Quem têm medo do robô mal

É assim que muita gente anda se sentindo no food servisse, engolido pela tecnologia

A substituição da matriz artesanal — feita por gente, afeto e suor — por uma matriz automatizada, cheia de botões e processos que parece não ter alma. É quase uma diatópica ficção científica mas não é. É o que está acontecendo agora, em tempo real, bem no meio das nossas cozinhas e operações.

Mas antes que você feche esse texto e vá abraçar sua batedeira planetária em prantos, deixa eu te contar uma coisa: o Robô não é o vilão.

O vilão é outro.

O vilão é a preguiça de pensar processo. É a incapacidade de treinar de verdade. É a insistência em tratar tecnologia como solução mágica, sem arquitetura, sem estratégia, sem cultura de operação.

Tem muito robô sendo subutilizado por gente que acha que forno combinado é micro-ondas gourmet. Tem muita operação que comprou equipamentos de ponta, mas continua operando com lógica de fogão a lenha. É como dar um carro de Fórmula 1 pra quem só pilotou carrinho de bate-bate.

Enquanto isso, a discussão vira polarizada: de um lado, os “defensores da alma da cozinha”, que demonizam qualquer coisa que apite; do outro, os “apóstolos do botão verde”, que acham que tudo se resolve com um dashboard.

E no meio disso tudo? Está você. Está o seu restaurante. Está a sua equipe, sua margem apertada, seu CMV gritando e sua mão de obra desaparecendo mais rápido que pão de queijo em coffee break.

É nesse ponto da história que a metáfora do conto de fadas começa a se inverter

Porque, veja bem: se o Robô “comeu a vovozinha”, foi porque ninguém ensinou pra equipe que atuava a receita de família. Ninguém treinou. Ninguém organizou o fluxo. Ninguém criou um processo que integrasse o conhecimento artesanal ao potencial técnico. E, sejamos honestos: a vovó também já estava cansada. Fazia 12 horas em pé, sem férias desde 2009. Talvez, no fundo, ela só quisesse ajuda. Se antes a antropofagia nos unia, agora vamos de canibal eletrônico mesmo.

É aí que entra a visão que venho pregando (com megafone, se for preciso) há anos: tecnologia, processos e treinamento não são substitutos da alma de um negócio — são ferramentas para libertá-la, para ampliá-la.

Um robô pode cortar, pesar, selar, assar, fritar, misturar. Mas só um ser humano treinado, num processo bem estruturado, é capaz de entender como e por que aquilo deve ser feito. O robô não é cozinheiro. Ele é um braço. Um recurso. Uma ferramenta. E como toda ferramenta, pode ser genial ou inútil, dependendo da mão (e da cabeça) que o comanda.

E não se engane: a substituição da matriz artesanal na gastronomia e na hospitalidade já começou e faz tempo. Já tem robô cozinhando arroz frito, montando hambúrguer, mexendo woks. E os debates pipocam na internet:

“Mas cadê o toque humano?” “E o segredo das avós?” “Robô sabe ajustar o sal olhando pro céu?”

A verdade é que a tecnologia já venceu essa guerra

A questão agora não é se vamos usá-la — mas como.

Não dá mais pra operar cozinha como quem opera um boteco de 1957. Hoje, o cliente muda de opinião a cada 30 segundos, o custo dos insumos flutua como criptomoeda, e os funcionários somem mais rápido do que funcionário bom no LinkedIn. Nesse cenário, quem não automatiza com inteligência vai ser engolido. Não pelo Robô — mas pela realidade.

Então, ao invés de fugir pro mato com medo do Lobo Mau tecnológico, que tal vestir o capuz vermelho com orgulho, pegar a cesta cheia de dados, processos e conhecimento — e ir bater na porta da vovó para uma conversa?

Porque talvez, só talvez… o Robô e a Vovó consigam cozinhar juntos.

Ele com a eficiência. Ela com o afeto.

Mas só se você for o roteirista desse novo conto. Só se você decidir desenhar um processo, treinar gente e usar a tecnologia como alavanca — e não como muleta.

E se ainda restar alguma dúvida, fica aqui a pergunta:

Você tem medo do Robô mau?

Publicado em 01 de agosto de 2025.

Escrito por Ivan Achcar, Fundador e CEO do grupo EGG EDUCA.

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